Formação em participação política e emancipatória e apoio para desenvolverem ações de impacto social em seus territórios. Este é o enfoque do processo formativo da nova turma de adolescentes do Projeto #RefazendoSonhos, que iniciou em 4 de março. Desde 2016, o projeto trabalha pelo desenvolvimento pessoal e social de adolescentes do município de Simões Filho (BA), com o intuito de garantir seus direitos fundamentais com foco na prevenção à violência sexual e no protagonismo. Em 2024, o novo foco visa potencializar ainda mais as lideranças locais entre os adolescentes e jovens egressos, para que deem continuidade ao legado do projeto e atuem como protagonistas em seu próprio território.
"Entendemos que precisamos buscar mudanças mais efetivas e duradouras e, nesse sentido, é muito importante o fortalecimento da comunidade e a participação dos atores locais, para que tomem o destino das suas comunidades nas mãos. Cada vez mais, construímos as bases para que essas ações se estruturem e possam continuar", explicou a diretora técnica e coordenadora geral da área de Direitos Humanos do Instituto Aliança, Ilma Oliveira.
O novo enfoque trouxe novidades para o processo formativo: as aulas irão abordar a participação política e emancipatória, terão um espaço de leitura com ações semanais e ainda oficinas pensadas para o fortalecimento dos grupos. O objetivo é formar jovens atuantes no sistema de proteção e garantias de direitos, com potencial de se tornarem multiplicadores.
Apresentação da montagem “Casinha dos Sonhos”, que traz a discussão sobre violência sexual adequada a crianças. |
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Coletivo cênico Sonhos em Movimento durante intercâmbio cultural com o Sarau de outro projeto do IA - Escola Social do Varejo. |
Legado – Para deixar um legado no território, mesmo após a finalização do projeto, o Instituto Aliança irá formalizar e incubar um grupo de ações autossustentáveis, tendo como uma das propostas a comercialização de uma das peças teatrais do Coletivo Cênico Sonhos em Movimento: “Casinha dos Sonhos". A peça, de forte relevância temática especialmente para o público infantil, traz uma discussão pertinente sobre a violência sexual contra crianças e adolescentes por meio de uma linguagem lúdica e adequada para esse público e, ainda, pode ser apresentada em diversos espaços educativos no município, em suas adjacências e até mesmo em Salvador.
Integrante do Coletivo Cênico, o jovem Alefy dos Santos Nascimento destacou o quanto participar do grupo tem contribuído para sua transformação pessoal: "O coletivo me fez ver o mundo de forma diferente e me ajudou muito como jovem, como pessoa, me ajuda ainda. Ele nos ensina a lidar com violências e ter consciência dos assuntos sérios, mas de forma lúdica e ao mesmo tempo profunda. Só tenho a agradecer pela experiência que vivo e que ainda tenho para viver, pois o coletivo cênico muda vidas e agora poderemos assumir isso de forma mais autônoma, vamos ter que aprender a andar com as nossas próprias pernas”.
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Jovem Gabriel Santana, 18 anos, durante apresentação dos resultados da oficina de produção de cartazes do evento JNA.
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Adolescentes nas discussões sobre temas de participação política durante o evento JNA. |
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Jovens engajados no debate durante o evento JNA. |
Outra ação estratégica deste ciclo do projeto será a contratação exclusiva e direta de dois adolescentes egressos do "Refazendo Sonhos em Movimento" como articuladores das ações de continuidade nos territórios. A proposta é apoiar a formalização de uma iniciativa potente e viável de forma participativa, ao lado de jovens egressos, garantindo a voz e a vez dessas pessoas, na implementação do que poderá se tornar a primeira organização do município formada por adolescentes e jovens – nesse caso específico, dando sequência ao trabalho desenvolvido pelo #RS.
"Saber chegar a um território é tão importante quanto saber sair dele. Precisamos ter um compromisso forte com as pessoas que confiam e se engajam nos nossos projetos, reconhecendo os potenciais de cada uma e acreditando que elas têm condições de gerar os mesmos movimentos de proteção e incidência política que nós geramos”, ressaltou o coordenador local do #RefazendoSonhos, Márcio Lupi.
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Ana Vidal, 17 anos, membro da coordenação do evento de participação juvenil Juventude na Área e Encontro Anual de Famílias
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Impacto – Em 2023, por meio do #RefazendoSonhos, foram impactados, diretamente, 267 adolescentes por meio das formações (incluindo 67 egressos), com idade entre 13 e 17 anos, e, indiretamente, mais de 70 mil pessoas, a partir das diversas ações realizadas. Desde 2016, o projeto já formou 724 adolescentes, 1.439 familiares e 138 gestores do município para o enfrentamento de violências, especialmente a sexual.
Em uma das iniciativas, os adolescentes puderam criar, por exemplo, estratégias de comunicação para os canais de denúncia de violência sexual. Além disso, foram realizadas oficinas e reuniões com os familiares abordando temáticas como: Direitos Humanos e Direitos da Criança e Adolescente, autoestima, resiliência, Comunicação Não Violenta e cultura da paz, adolescências, entre outras.
Para o educador âncora do projeto, Alan Sueira, envolver as famílias é fundamental para fazer o projeto acontecer. "Pensar essas temáticas com familiares é uma forma de desconstruir crenças que são repassadas de geração em geração e acabam reforçando uma cultura violenta e de invisibilização das adolescências. É pensar, juntamente com as famílias, estratégias de proteção para si e para seus filhos, atuando de forma ativa na sua comunidade, adotando uma postura diferente diante do poder público e na relação com o adolescente", disse o educador.
Mãe de uma das participantes do projeto, Eliana Nascimento de Jesus partilhou seus aprendizados com o projeto: "Em relação às formações de famílias, pude compreender um pouco o universo dos adolescentes, refletir sobre estratégias de cuidado e pensar em como proteger minha filha, sem privá-la de viver no mundo. A formação me ajudou a mudar práticas cotidianas, não só na minha família, mas com os e as adolescentes que trabalham nas escolas''.
Octávio Gabriel, integrante da turma 2023.2 do #RS, durante seminário de apresentação dos resultados dos projetos.
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Jandiara Queiroz, adolescente do #RS, fala sobre o impacto dos projetos desenvolvidos em Simões Filho. |
Metodologia – Um destaque da metodologia do projeto está na formação de núcleos de Comunicação, Teatro e Observatório com os e as adolescentes egressos das formações. Nesses núcleos, há muito diálogo e as decisões são tomadas em conjunto. Além disso, o método ativo Design Thinking continua obtendo resultados eficazes nas formações, com especial ênfase para a elaboração de projetos de intervenção.
A abordagem se baseia na identificação de problemas na comunidade e na elaboração de soluções práticas, simples, viáveis e criativas, incentivando capacidades individuais e coletivas, impulsionando o pensar, o sentir e as atitudes de autoconhecimento e heteroconhecimento, tendo o ser humano como centro motivador de todas as ações.
Até o fim do primeiro semestre, o objetivo é que, pelo menos, 170 adolescentes sejam alcançados, com seus respectivos familiares, além de ações concretas de incidência política nos serviços e espaços de representação dos direitos de crianças e adolescentes.
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O protagonismo de Fernanda Reis, 17 anos, adolescente integrante do #RefazendoSonhos.
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Encontro – Um encontro cheio de potência marcou a última sexta-feira do mês de março (29), quando as equipes do Programa Na Real e #RefazendoSonhos, ambos implementados pelo Instituto Aliança, se juntaram para uma tarde de compartilhamento de vivências, marcado pela alegria, criatividade, sonhos. Juntos, no núcleo de formação do #RefazendoSonhos, em Simões Filho, trocaram experiências a partir de um ponto potente e comum: o teatro – o Na Real, a partir de um espetáculo que busca dialogar com adolescentes sobre as consequências do consumo precoce indevido de bebidas alcoólicas, e o #RefazendoSonhos, com o Coletivo Cênico Sonhos em Movimento, por meio da peça "Vamos dar a Meia Volta", que aborda questões ligadas à violência sexual que atinge crianças e adolescentes.
O Coletivo Cênico do #RS se apresentou para colegas do Na Real, incluindo a coordenação-geral e local, além de mediadores, transformando a sala 2 do núcleo num palco de emoções e talentos. Também estiveram presentes a coordenações-geral e local do #RS, educadores e articuladores do projeto. O espetáculo Vamos dar a Meia Volta,tem a direção de Jedjane Mirtes e é composto por adolescentes e jovens egressos da formação do #RefazendoSonhos.
Márcio Lupi, coordenador, e Jedjane Mirtes, diretora do Coletivo Cênico Sonhos em Movimento, dão boas-vindas e fazem abertura da atividade. |
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Jovens do Coletivo Cênico do #RefazendoSonhos atentos durante a atividade. |
Equipes dos Programas Na Real e #RefazendoSonhos com jovens atores do Coletivo Cênico Sonhos em Movimento.
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Saiba mais – O #RefazendoSonhos é um projeto de desenvolvimento pessoal e social para a garantia de direitos de crianças e adolescentes, com foco na prevenção à violência sexual e no protagonismo juvenil. Financiado pela Kindernothilfe, por meio de seu escritório da KNH Brasil – Regional Sudeste e Centro-Oeste e estado da Bahia, tem como parceiro técnico o Instituto Aliança; parceira local, a prefeitura de Simões Filho; parceira estratégica, a loja Euzaria; e parceira certificadora a Universidade Estadual do Ceará (UECE).